Complexo Booth Line: Um Marco Histórico de Manaus
Se você é manauara ou já visitou a cidade, talvez tenha notado aqueles prédios antigos ao lado do Porto do Centro de Manaus, o Roadway. Apesar de estarem ali como testemunhas do tempo, muitos não sabem o que esses edifícios representam. Infelizmente, a história de locais como o Complexo Booth Line raramente é abordada em nossas escolas. Confesso que só tomei conhecimento desse local ao pesquisar sobre o passado de Manaus em 2012. Curioso, mergulhei em livros e relatos para entender mais sobre esse fascinante ponto histórico.
O Que É o Complexo Booth Line?
O Complexo Booth Line leva esse nome devido à presença de uma das empresas que ocupava o local: a Booth Steamship Company, fundada pelos irmãos Alfred e Charles Booth. Essa empresa fazia parte do grupo Booth Company, que também gerenciava a famosa Manáos Harbour, sediada em Nova Iorque. Embora não integre formalmente o Complexo Arquitetônico do Porto Flutuante de Manaus, o Complexo Booth Line está localizado dentro do Centro Antigo da cidade, área protegida pela Lei Orgânica do Município de Manaus desde 1990.
Segundo a legislação municipal, essa área compreende a Rua Leonardo Malcher, a orla fluvial e os limites definidos pelos igarapés de São Raimundo e Educandos. Embora seja tombado, o complexo tem enfrentado o descaso e a perda de parte de seu valor arquitetônico ao longo do tempo.
A Localização e Contexto Histórico
O Complexo Booth Line está situado ao lado da estação hidroviária, em frente ao estacionamento do Porto de Manaus. No passado, ali estava a Praça Oswaldo Cruz, também conhecida como Praça dos Bondes, por abrigar a estação dos famosos bondinhos que circulavam pela cidade. Há ainda divergências sobre o nome da praça; algumas fontes a denominam como Praça XV de Novembro ou Praça do Commercio. Independentemente da nomenclatura, esse espaço foi um marco na história de Manaus.
As Empresas e Edificações do Complexo
O Complexo Booth Line abrigava importantes empresas e instituições que marcaram a história econômica e cultural de Manaus, de acordo com a fotografia abaixo, da esquerda para direita , podemos mencionar:
-
Booth Steamship Company: Localizado em um prédio de esquina com oito janelas e portas, foi posteriormente transformado no Entreposto Internacional da Zona Franca de Manaus (EIZOF), a primeira loja de artigos importados na época da implantação da Zona Franca.
-
Manaós Tramways and Light Company: Firma inglesa responsável pelos bondes e pelo fornecimento de energia elétrica para a cidade. Esse prédio também foi um símbolo do progresso e da modernidade em Manaus.
-
Casa Comercial de Waldemar Scholz: Construído por Waldemar Scholz, o mesmo alemão que projetou o Palácio Rio Negro. Esse edifício passou por diversas funções ao longo do tempo: foi sede do Banco do Brasil, do Llyod Brasileiro, do Tribunal de Contas do Estado e da Casa do Pequeno Trabalhador.
-
Bar e Restaurante Bolsa Universal: Um local emblemático que foi destruído e até final do ano passado dava lugar a um estacionamento privativo.
O Declínio e a Importância da Preservação
Infelizmente, o descaso e a falta de uma política efetiva de preservação levaram à deterioração de parte do Complexo Booth Line. Alguns prédios foram destruídos ou descaracterizados, apagando memórias importantes da história de Manaus. Fotografias históricas mostram a beleza arquitetônica que um dia marcou a paisagem do local.
Preservar esses espaços não é apenas uma questão de saudosismo; trata-se de valorizar a identidade e o patrimônio cultural da cidade. Cada prédio conta uma parte da história econômica, social e cultural de Manaus, contribuindo para um entendimento mais profundo de nossa formação enquanto sociedade.
Reflexão Final
Atualmente, o Complexo Booth Line está sendo revitalizado e foi reaberto como o “Complexo Booth Line – Mercado de Origem da Amazônia” no dia 24 de outubro de 2024, coincidindo com o aniversário de Manaus. O espaço oferece oportunidades para pequenos e microempreendedores prosperarem economicamente, promovendo a valorização dos produtos regionais e fomentando a economia local.
A administração do mercado é realizada pelo Grupo UAI e pela Fundação Doimo, que têm trabalhado para garantir um uso funcional e cultural do complexo. Embora ainda não esteja completamente restaurado, o local está sendo gradualmente ocupado, com um prazo estimado de dois anos para a revitalização total das fachadas dos 17 prédios que compõem o conjunto.
Este esforço de recuperação não apenas resgata a história de Manaus, mas também projeta um futuro mais inclusivo e sustentável para a região, conectando a herança cultural com as necessidades contemporâneas.
